quarta-feira, dezembro 31, 2008

Façamos Um Brinde Ao Ano da Crise


Driss espera por si e que você traga o champanhe Raposeira mais doze passas hoje à noite, na Adega Cooperativa de Dois Portos. Haverá vinho carrascão e cassettes do Jorge Rocha & Lipstick para as boas vindas a 2009. Vai ser de partir a moca a rir e não só. Só é preciso que tenha o boletim de vacinas em dia. Faça connosco um brinde ao ano que todos temem. Venha daí!

Vá lá, só até ás 3.

Deve ser fácil de aguentar.

Depois ele vai-se embora.

Sim, ele é muito repentino, uma vez por ano chega-lhe.

Fazem-nos esse favor? Depois das três podem mudar a cassette para o lado B, vai ser mais giro.

Então está bem, lá esperamos por vós.

segunda-feira, dezembro 29, 2008

Bigodes Resistentes

Flávio Murtosa – Ué? Como é meismo? Fazê a capa dum dishco? Sei não, gentchi. Isso é coisa sem jêito…

Henrique Calisto – Tomem lá mais uma chapada de luva branca, vocês que pensavam que ia para o Vietname para acabar como o Christopher Walken no filme “O Caçador! O bigode português continua a ganhar!

Sargentão – Não enchi o saco agora não, tá ouvindo, cara? Vê-si logo que nunca fêiz publicidadji. Qui cara brega, hein?! Vâmu lá, pêssoáu. Cara alegri para a foto.

Rui Caçador – Ena pá!, grande cabedal! Bem, ó Rodrigues, obrigado, pá! Favoreceste-me bué com a tua montagem! Ganda cena! Bem feita, que é para a minha filha não pensar que é a única com um corpinho bom lá por casa

Manuel Machado – A minha pessoa viu-se subtraída de muita da sua eloquente dignidade ao atingir um patamar de ridicularização pública absurdamente patético, fruto da leitura superficial e enviesada que determinados agentes extra-desportivos recorrentemente fazem das minhas idiossincrasias de expressão. Feito este ponto prévio, julgo que chegou o momento de dizer o seguinte: vão todos pró c*****o, por favor.

Mário Nogueira – Como assim, o que é que estou aqui a fazer? Estou aqui a verificar que não há atropelos de liberdades essenciais! Esta montagem tem o seu quê de fascizóide, parece-me óbvio. E tenho ou não tenho bigode? Ah, bom!... Pensei que me iam dizer que não estava qualificado!... Não me enganam assim com duas cantigas!...

quarta-feira, dezembro 24, 2008

Os Gordos Somos Nós

Quando se associa o adjectivo “gordo” ao substantivo “futebol” surgem normalmente três respostas:

- Rochemback;
- Miguel Veloso;
- A esposa do protector e progenitor de Miguel Veloso, quando grávida deste, a comer pastéis de nata de forma alarve depois de embuchados dez menus Big Mac XL e com o Rochemback às cavalitas, depois deste ter passado três meses no Brasil apenas a comer a gordura da picanha com o mínimo de movimento possível.

Pois bem. Se quanto à última hipótese não subsistem dúvidas relativamente à adiposidade envolvida, pese embora a sua aderência apenas indirecta ao futebol, quanto aos buchas de Alvalade a realidade factual surpreende os mais distraídos.

Segundo a fórmula de cálculo do famoso IMC – Índice de Massa Corporal, Miguel Veloso nem sequer é gordo: com os seus simpáticos 24,4 de IMC, Miguel Veloso é, pasme-se, “normal”. Quem diria. A ciência, porém, não nos deixa mentir.

E Rochemback, de quem esperaríamos no mínimo ter um pneuzinho a mais, a bunda um pouco descaída, uns papos no pescoço ou algo do género, deixa-nos de boca aberta: o brasileiro apresenta uns saudáveis 24,8 e, embora no limiar do excesso de peso, é também um tipo “normal”. Ou seja, a lentidão que é a sua imagem de marca não é consequência da sua massa corporal, mas apenas feitio. E que feitio.

É um pouco mais a norte que encontramos os verdadeiros gordos do futebol indígena. Curiosamente, dois guarda-redes, que bem poderiam ter sido dois guarda-tachos, tal o apetite voraz que os caracteriza.

A temporada 2007/08 do Freamunde iniciou-se sob nuvens pesadas e um ambiente carregado. Os problemas eram notórios e difíceis de depurar. Existia uma concorrência apertada para a baliza e era quase impossível que dois egos tão gigantes como os que são apresentados de seguida não chocassem entre si, de tão desmesurados que eram.

Rui Ribeiro, “el gordo” de Freamunde, devorava amiúde capões inteiros ao pequeno-almoço. Ganhou alguma notoriedade engolindo as bolas mais suculentas que lhe eram rematadas. Tinha ficado uma época quase em jejum de jogos e jejum é coisa que não liga com Rui Ribeiro. Nesta temporada, Rui Ribeiro jurara para si mesmo que iria devorar todas as sandes de leitão que vislumbrasse nos estágios da equipa, decidido a recuperar a seu estatuto. IMC = 27,2. Ou seja, “excesso de peso”.




Porém, Tó Figueira, “el glutón”, não estava pelos ajustes. Proveniente de Famalicão, Tó Figueira botava a mão aos doces conventuais com maior perícia do que botava a mão à bola. Tó Figueira, o terror de qualquer jantar de grupo, absorvia quantidades indescritíveis de alimento, desde doces da casa até presunto de Chaves. Uma vez durante um treino, quase que sorvia Bock de uma só penada, convencido que o notável avançado era mesmo uma cerveja fresquinha. Tó é Figueira porque ingeriu a árvore em vez de andar a escolher os frutos um a um, o que era uma trabalheira. IMC = 28,3. O que significa “excesso de peso”, a caminhar a passos largos para “obesidade grau I”.

A escolha era tão difícil que o técnico Jorge Regadas optou pelo terceiro guarda-redes, deixando estes dois volumosos jogadores a lutar entre si num restaurante qualquer. Então eles decidiram-se por um tira-teimas épico, onde ganharia aquele que mais conseguisse enfardar sem rebentar. Valia tudo, desde comer resíduos de lipoaspiração até antropofagia, excepto comer pacotes de açúcar inteiros.

O aperitivo estava no próprio plantel: o jovem e franzino Artur, uma espécie de Albert Hammond Jr. com algum jeito para a bola. Rui Ribeiro considerou que, com alguma boa vontade, o cabelo do apetitoso Artur assemelhava-se a algodão doce. Já Tó Figueira, deliciado com a qualidade de passe do guedelhudo Artur, afiou os dentes a pensar no delicioso petisco que seriam aquelas pernas e pés.


Para já, Tó Figueira tem alguma vantagem: partiu na pole-position, devorou 3 pratos de cozido à portuguesa, metade da vaca que aparece nos produtos “La Vache Qui Rit” e toda a colecção dos gordurosos frascos de gel do Rui Santos; Rui Ribeiro também vai bem, mas para além dos três quilos de arroz de pato, ainda só comeu dois ou três placards publicitários à volta do campo do Freamunde e está com dificuldades em mascar as partes mais recônditas da sua fritadeira.

Ao pé destes dois, Rochemback e Miguel Veloso são uns meninos, Miguel Veloso de forma literal.

E não podia deixar de abordar o tema Freamunde nem referir Bock sem colocar uma fotografia do mesmo. Bock existe, Bock está aqui, Bock penetra-nos a mente com o seu olhar assassino. Enquanto vocês liam este texto na diagonal, Bock facturou mais um golo.




Feliz Natal e que Rudi esteja convosco.

quinta-feira, dezembro 18, 2008

O novo Maldini


"Quem sou eu?
Sou o novo Maldini! Um defesa lateral esquerdo à altura do campeonato português.. e por isso, à altura do Mundo. Vim do Varteks.. e depois?
É um grande clube.. um médio clube.. ok, um mediano clube na Croácia.
Estive lá 4 épocas e agora tive o salto da minha vida. Agora só páro no Real Madrid!
E se vim para aqui e o Nuno Valente foi emprestado é porque tenho qualidade! Antevejo que esse Nuno Valente ainda possa ser campeão Europeu, um dia!"
...
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(passados uns meses)
Estou no banco do Sporting? Sei lá porquê! Perguntem ao mister Octávio. Acho que a culpa é do Peixe. Esse cromo que não me deixa subir no terreno. O Pedrosa veio para me fazer concorrência? ó ó.. um tipo que anda aqui só para passear o cabelo..
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(passados uns meses)
Bem, vou mas é dar asas á minha carreira, vou voltar ao Varteks para depois ir parar ao Real ou ao Milan, até porque o Maldini está a ficar velho..
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(passados uns anos, em 2002)
"Bem, é agora. Estamos já no Século XXI e vou assumir o risco.. vou para uma carreira de risco... é isso, vou para Israel, para o Ashod."
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(passados uns anos, em 2005)
"A Grécia é que está a dar.. vou ser observado finalmente! Acho que vou fazer uma grande época europeia, no Chalkida FC. Vou jogar com grandes jogadores. O "Korakakis", o "Zacharopoulos".. o "papam-me todos na defesopóulos".
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(passados uns anos, em 2007)
"Levadiakos, é isso! Devia ter vindo ´logo para cá , em vez de ir para o Sporting em Portugal!
Está lá o Anderson do Ó [o que joga no Setúbal e marcou ao Benfica], o Danilo, o Alex, o Sisic e o Gourma! Com Balajic na defesa, o Levadiakos vai chegar à Europa. Finalmente vão poder que ver o que o verdadeiro Maldini sou eu!!"
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(2008)
"Bem, anda tudo cego... vou para casa. Vou retornar ao Varteks FC.
Além disso, o boi do Maldini está cheio de medo de perder o lugar de vedeta.. por isso nunca mais acaba a carreira!! Pelo menos enquanto eu estiver a jogar, porque ele sente-se ameaçado concerteza."

domingo, dezembro 14, 2008

Divino Manel

Estava a chover e fazia frio quando a Cromos da Bola, SAD entrou em contacto com o nosso laureado treinador Manuel José. Podíamos ter feito umas pipocas e ver um filme do centenário Manoel de Oliveira, mas já tínhamos estragado os tachos todos (como se isso pudesse ser desculpa para não ver um filme do tipo). Então, pensámos noutro grande português… e o nome do Manel veio à baila. Foi só substituir “de Oliveira” por “José”.
Como a SAD não queria correr riscos desnecessários nem sair de casa devido à intempérie, efectuou uma chamada (a pagar no destinatário) e abordou o sempre afável Manel, a nossa lança em África. Fica aqui o registo.

- Manuel José, obrigado pelo seu tempo e disponibilidade para falar connosco. Como vão as coisas aí pelo Cairo?
- As coisas aqui são sempre complicadas. E não apenas por efeito do calor. Sou muito requisitado graças ao meu sucesso. Se eu quero sair à rua, tenho sempre uma legião de fãs que me segue. Agora estou aqui ao telefone e está a haver um motim junto à cabina telefónica. Com cocktails molotov e tudo! Até as burkas das egípcias vão pelo ar! No outro dia, tive uma dor de barriga e estive no WC com mais cerca de 150 egípcios que não me largavam. O que vale é que era um WC espaçoso. E havia papel higiénico. Mas toda esta azáfama dá-me cabo do sistema digestivo.
- É assim tão complicada a pressão da fama?
- É. Mas a pressão nos meus intestinos é ainda mais complicada. Naquele dia não deu para aguentar. Cancelei o treino e tive de pedir à polícia para me arranjar um WC à maneira, mas os tipos eram meus fãs e quase que deitei tudo a perder ainda antes de chegar à retrete… você percebe o que quero dizer?
- Sim, sim… Então você é mesmo uma espécie de Deus?
- Ora essa!... Não, não seria correcto da minha parte afirmar isso.
- Então?
- Sou ainda maior que Deus. Maior que John Lennon. Quero dizer, quem ganha títulos como eu ganho… eu ensinei o futebol a estes gajos! Antes, pensavam que o Abdel-Ghany era o limite! A minha fama é tanta que os egípcios adoram tudo o que é português, no geral. Menos as praias, que de areia estão eles fartos. É tudo mérito do treinador português.
- Incluindo o Manuel Cajuda, certo? Ele também andou por aí.
- Não. Ele não é português. Nunca reparou como ele fala de forma esquisita? Ele é marroquino. E existe muita rivalidade regional entre Marrocos e Egipto. Eles detestam o Cajuda como, aliás, quase todo o mundo. Eu é que sou o protótipo do treinador português. E tudo isto sem bigode, o que tornou tudo ainda mais difícil.
- Já há quem lhe chame “o faraó lusitano”…
- … e já há planos para eu ter uma pirâmide em meu nome.
- A sério?
- A sério. Eles têm lá aquela pirâmide sem nariz, ou lá o que é, e está na altura da renovação. Aquilo está devoluto. A pirâmide de Manelkhamon vai ser a 7ª, 8ª e 9ª maravilha do Mundo em simultâneo. Não é só o CR7 que é bom. Eu sou muito bom. Já lhe disse que sacrificaram mais de 500 mil crocodilos do Nilo em meu tributo? O próprio Nilo já não significa nada para os Egípcios, eu substituí-o na escala de importância.
- Bolas! …
- Eles já não rezam virados para Meca… mas sim para Vila Real de Santo António, a minha terra. Aquilo agora é local de culto. Não pensem que os árabes vão ter às costas do Algarve apenas pelo haxixe.
- Impressionante!
- Espere aí uns cinco minutos… tenho de dar autógrafos à população do Cairo, Alexandria e, com jeito, aos refugiados do Monte Sinai… senão eles imolam-se ou qualquer coisa do género…só um momento, por favor.

- Já está.
-
Já? Tão rápido?
- Tenho uma fotocopiadora portátil sempre comigo. Isso e fotografias autografadas do meu esbelto perfil, que é bem melhor que o dos egípcios clássicos. O meu perfil tem um aspecto… renascentista, sabe?
- E... despachou todos?
- Sim, despacho 2 milhões por minuto e durante o Ramadão, quando eles têm menos resistência, chego aos 3 milhões por minuto. Isto no Egipto é assim. É tudo em grande.
- Bom, e quanto ao futebol português? Como vê a situação actual?
- Olhe, vejo com bastante apreensão…
- Por causa dos escândalos, não é?
- Não, porque estou cada vez pior da vista. Isto a partir dos 50 já não é como era dantes, sabe?
- Não considera trabalhar com Pinto da Costa?
- Não. Eu já nem sequer considero trabalhar. Sou demasiado bom, isso é para os escravos do Baixo Nilo.
- E a Selecção Nacional?
- Acho que já passou o meu tempo… Que horas são?
- Cinco e meia, GMT.
- Pois… Era até às cinco ou não era. Paciência.
- E para quando…
- Já está!
- Já está o quê?
- Acabei de ganhar mais uma competição enquanto estávamos aqui a falar!
- Mas… como?
- Olhe, sou tão bom que nem sei. Não sei mesmo!... Que raio de taça era esta? Bom, ganhámos pela 12ª vez consecutiva, pelo que sei. Vamos ter de parar por aqui esta conversa.
- Pronto… está bem…
- Já está ali uma multidão de egípcios com os camelos e tudo para me vitoriar. São mais de 4 milhões prontos para me abraçar…
- Ena pá!
- … e isto está fraco, o tempo não está grande coisa e os camelos fazem birra… Quando regressar a Portugal, é bom que as autoridades se preparem para receber uns quantos milhões de egípcios – eles não me largam! É incrível a paixão deste povo… e eu ainda com esta dor de barriga…Está a ouvir o ruído?
- Não…
- Pois, este foi de pantufas. Bom, vou abrir a porta. Adeus!

[Um bruá imenso e a chamada foi abaixo.]

quinta-feira, dezembro 11, 2008

Rei, mas não Mago

José Gaspar nasceu em Santo Tirso, terra de tradições eclesiásticas. Desde cedo lhe foi comunicada a missão em torno da qual iria pautar a sua vida: ir a Belém ter com o Menino Jesus.

- "Mas cuidado, Gaspinho" - diziam - "pois não serás guiado por uma estrela, mas sim por um redondo e circular esférico!"

Porém, o nosso imberbe Gaspar, então desfrutando da sua meninice, parecia mais preocupado com a sua evolução capilar, ou pela falta dela.

- "Mamã, quando é que vou ter idade para deixar crescer uma mosquinha?"
, perguntava.
- "Segue o redondo esférico, Gaspinho. Aí encontrarás as tuas respostas!"

Desta forma, o nosso José - arguto e sagaz, como mais tarde viríamos a saber- decidiu tornar-se em jogador profissional de curling.

Após três anos à procura de uma equipa à qual se pudesse juntar e mais dois a praticar o referido desporto, o seu companheiro nos Saskatchewan Grizzlies, Sillanpää Kivi, informou-o que as pedras com que jogava não eram esféricas. Eram achatadas demais. Gaspar autoflagelou-se brutalmente por não ter verificado o significado da palavra "esférico" antes de decidir fazer dela a sua razão de viver. Azar. Ainda por cima agora que tinha finalmente deixado de ser o gajo da vassoura para amealhar a glória inerente a quem lança a pedrinha.

Logo, o nosso arguto Gaspar - já com idade para sacar uma mosquinha - decidiu mostrar ao mundo que sabia perfeitamente o que era um esférico redondo, e aventurou-se no maravilhoso mundo da bola.
Como primeiro veículo para o transportar na longa viagem até Belém, Gaspar escolheu um clube promissor, contudo ainda longe dos grandes palcos: o CD Trofense.

José demonstrou uma grande capacidade visionária. Todavia, como a equipa da Trofa ainda estava a 15 anos de distância das luzes da ribalta, cedo decidiu em dar o salto para um clube mais religioso: o pio Tirsense da sua terra natal. Lá pensou estar mais perto de concluir a conventual missão que o conduzia pela vida fora.
Mas por muito Nito, Siasia ou Goran que houvesse, Jesus não havia, e Belém nem a via.

Setúbal foi a nova paragem.
- "Sempre estou mais perto de Belém...e se é verdade que não há Jesus, há o bigode do Matias e também o Ayew, que pode fazer de Belchior se necessário for", pensou.

Porém, ainda nem o sadino lugar estava quentinho, e eis que chegou a oportunidade futebolística pela qual todos os jogadores anseiam: o chamamento de um "grande".
Os seus companheiros berravam: "aceita, Zé!", porém o nosso longilíneo amigo não via interesse:

- "É bom para a prática deste desporto a que vocês chamam futebol, mas a mim o que me interessa é cumprir a minha missão: Ir a Belém levar incenso a Jesus."
- "Mas se não fores para o Porto, nunca terás dinheiro para comprar incenso, ó bronco.", retorquiu educadamente o buliçoso Tó Sá.
- "Bem visto."

Por vezes é preciso dar um passo atrás, para dar dois à frente, terá dito Gaspar.
Na invicta abandonou a mosquinha que o acompanhara durante toda a sua carreira, decidindo-se pelo look Abdel-Ghany light, numa tentativa de impôr respeito num balneário repleto de monstros sagrados da posição de defesa-central, como Alejandro Diaz, Lula e J.M. Pinto. Esta compilação de atletas poderia compôr a quadra de centrais de um qualquer Ac. Viseu da vida, porém tratava-se do Tetra-Campeão português.
Felizmente que António Oliveira contava com laterais do calibre de Carlos S. e Buturovic, senão as coisas poderiam ter dado para o torto, mas se algo falhasse havia uma equipa de futsal para manter as redes invioláveis: o kralhista Rui Correia, Eriksson, o jaimador de cerquelhas Taborda, o mítico Costinha e o centenário jovem Hilário. Estávamos em pleno reinado do maior fantasma do futebol nacional, portanto.

Desta forma, os azuis juntaram mais uma dobradinha ao seu palmarés, com Gaspar como figura central do presépio do triunfo. Contudo, apesar de ter tomado um quentinho duche banhado a êxito e cheirinho a enlevo, o nosso sagaz amigo ainda não estava satisfeito. Já tinha o incenso, mas não tinha Jesus. Muito menos Belém.

Mesmo ao lado das Antas, em Leça da Palmeira, não havia Jesus, nem Deus ou Santos que o salvassem, mas existiam pecadores q.b. "Talvez através de uma viagem ao purgatório possa limpar a minha alma de modo a que me deixem aceder aos dourados portões de Belém", concluiu.

Assim sendo, nada melhor que disputar uma época na II Liga sob as ordens de Luís Campos, uma espécie de Armagedão futebolístico embutido num corpo diminuto e de cabeça calva.
Partilhando o verde rectângulo com artistas do calibre de Zé da Rocha, Loinaz, Putnik, Zé Nando, Srdam Slagalo e Dieb, Gaspar concluiu o seu calvário com a coragem e a rectidão dos grandes homens.

"Agora sim, já comi o pão que o Vladan amassou. Estou pronto para levar a cabo a minha missão."

Porém, Jesus não estava a ouvir e Deus estava ocupado a moldar o seu pupilo José Mourinho. Alverca, Paços e Barcelos foram os destinos seguintes deste andarilho do cautchú, sempre descalço de trouxa ao ombro, caminhando ao pôr do sol pelos trilhos do comboio, qual Tom Sawyer com gigantismo ou Lucky Luke sem cavalo.

No entanto, o ano de 2004 sorriu para José, tal qual um Mílton Mendes versão calendário.
Uma chamada telefónica numa língua estranha prometeu-lhe mundos e fundos na paradisíaca localidade de Ajaccio, local de nascimento de Napoleão Bonaparte. Por esta altura Gaspar já estava por tudo. Triste, desiludido e desencantado com a vida, já pusera a sua missão de parte para se concentrar apenas na carreira como pontapeador de esférico.
Amargo, José vingou-se no cabelo. Nenhum vaso capilar resistiu à sua fúria.
Corta, pinta, frisa, desfrisa, bota madeixa, saca madeixa, deixa crescer, volta a desbastar.

Os amigos, preocupados, perguntavam-lhe se estava tudo bem com ele, visto que a sua costumeira bonomia parecia esfarelar com o tempo, como uma boroa de duas semanas no bolso do fato de treino do Jamir. Ajaccio não foi o paraíso esperado, sendo que se tornou em apenas mais um apeadeiro deprimente do comboio das desilusões com destino a parte incerta.

Mas eis que do nada, o redondo esférico mudou radicalmente de rota e seguiu em direcção a casa. A Belém.
As nuvens negras abriram e deram lugar a um sol resplandecente. O orvalho matinal cobria o planeta Gaspar como um manto de prata, pronto a vestir as monárquicas costas do seu Rei-não-Mago (porque mago só há um: Dibo).

Gaspar chegava a Belém.
Feliz como uma criança, José correu (sim, a pé) desde Ajaccio até Lisboa com um Mílton Mendes nos lábios e o vento a soprar cálida mas gentilmente na sua farta cabeleira.
Após três semanas a palmilhar as costas francesas, espanholas e portuguesas, munido apenas com o seu walkman a bombar Divinus e um robe de sarrapilheira, Belém à vista. Finalmente.

- "Oh gentis senhores, podeis dizer-me onde encontrarei Jesus?", perguntou a um funcionário do Restelo. Velho, como convém.
- "A gente temos um coveiro neste momento agora, jovem barbudo. Mas diz que pró ano vem aí Jesus para salvar a gente, ó guedelhudo rapazola."

Sabendo como ninguém que a paciência é a melhor virtude que um andarilho pode exalar neste longo caminho da vida, José Gaspar fez a barba, meteu o incenso no cacifo do balneário e rezou sete Avé Marias, três Pai Nossos e nove Jaculatórias para que o Ahamada não o surripiasse.
- "Uma época passa rápido. Mesmo com José Coveiro ao leme da nau", suspirou.

Confirma-se. Um ano após a sua chegada ao Restelo, o Rei-não-Mago (porque mago só há um: Dibo) Gaspar reunia-se com Jesus em Belém e entregava-lhe o incenso. Jesus - o Jorge - jurava a pés juntos que nunca se iria deitar nas palhinhas, mas Gaspar insistia. Que só lho poderia entregar dessa forma. Jesus recusava, como brioso Homem que sempre foi. Os ânimos aqueciam. Fábio Januário ainda tentou intervir, mas foi tarde demais. José Gaspar arremessou o incenso à experiente testa de Jesus.

- "Está entregue.", afirmou o Rei-não-Mago (porque Mago só há um: Dibo)

A missão cumprida valeu-lhe a paz interior e um ríspido bilhete de regresso ao Norte lusitano, para alinhar no ex-clube de Dibo (o mago, não sei se ja frisei isso), o Rio Ave.
Clube esse que o acolheu como um dos seus, e o exortou a manifestar a sua recém adquirida paz interior com mudanças radicais de putrefacção capilar.

José adoptou um sorriso rasgado, um penteado à Ronny van Es, e uma eclesiástica barba a fazer lembrar tempos idos de uma missão por cumprir.

Disfruta, José. As portas do céu estão escancaradas.

terça-feira, dezembro 02, 2008

Dicionário da Bola

Possis e Cucs deste mundo Cao, apraz-me anunciar que estamos a fazer História, pois inauguramos neste preciso momento uma nova rubrica.

Uma rubrica que irá abalar o Nuno, a sociedade, e o Nuno Sociedade em simultâneo.

Trata-se do DiciBola, uma ferramenta bastante (in)útil para utilização futura, que visa preencher o nosso pobre léxico ocidental com novas expressões idiomáticas de cariz cromático-boleiro.

Arroto desde já as primeiras que me vieram ao esófago, mas exorto-vos a participar também na caixa de comentários. Juntos poderemos tornar o Mundo num sítio melhor para o Dinda encher o pé.

Posteriormente, iremos arquivar o DiciBola num link na barra lateral. Até lá, forcinha nos dedos é o que vos desejo.

Antes de dar início à lição do professor William, devo apenas frisar que aquela coisinha fixe no topo da barra lateral (a que diz Lugar Anual) é uma forma de poderem seguir melhor - e em primeira Vata - as pútridas incidências deste vosso blog.

Mais que não seja, se vos registardes ali, estareis a encher estes vossos debitadores de inutilidades de carinho.

Show us some love, babes.


OK, segue o DiciBola.

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"Sacar um Celestino": mostrar uma apetência para ajudar o adversário através de um, dois ou sete autogolos num jogo.

Exemplo: "O coitado do Chaves da Catalunha não teria tido a mínima chance, se o SCP não tivesse sacado um duplo celestino da cartola."

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"Lamptadu" ou "Aduptey": ex-futuro Pelé ou Maradona

Exemplo: "O Bolatti foi apadrinhado pelo Maradona. Isso faz dele um Aduptey, ou um simples Paulo Almeida loiro?"

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"Jaimar uma Cerquelha": ter uma monocelha.

Exemplo: "O Febras destacou-se pela sua apetência pelo golo, o seu cheirinho gostoso, o nome chique, e por ter jaimado orgulhosamente uma cerquelha durante anos a fio."

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"Limar um George": voltar da terra de origem depois de umas férias de duas semanas, com mais dois, quinze ou sete anos de idade.

Exemplo: "Ouvi dizer que o Louletano não deixa o Idalécio ir a Alcochete visitar a família com medo que ele lime um george, e volte com 41 anos de idade."

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"Carloscostar": fazer nove ou onze posições em campo com galhardia e brilhantismo.

Exemplo: "Este Tomás Costa, para além de extremamente feio, ainda só não carloscostou as posições de keeper e striker. I'm flabbergasted!"

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"Sacar um Secretário": Assistência para golo reveladora de visão de jogo assombrosa, no que concerne aos avançados adversários.

Exemplo: "O Chaínho ainda deve ter as mãos coladas à calvície, desde o momento em que o Carlos S. sacou um secretário para o Acosta."

(neste caso, estamos perante um duplo sacanço de secretário, dado o acto ter sido cometido pelo próprio Deus que deu o nome à expressão. Extremamente poderoso.)

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"Mawetakwapepatoy": "novo Eusébio" em dialecto benfiquista.

Exemplo: "A Bola" diz que há pelo menos cinco júniores do Benfica com potencial de Mawetakwapepatoy. E eu acredito! - Atenciosamente, Barbas."

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"Kralhismo": filosofia apenas praticada pelos goleiros, que consiste em tratar uma bola cruzada por um adversário, tal como a Lili Caneças trata um pechisbeque.

Exemplo: "O Labrecas demonstrou ser um fervoroso seguidor do kralhismo durante a Final do Euro'04."

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"Idos de Pedro Roma": expressão que designa tempos longínquos.

Exemplo: "Tenho saudades de ver o nosso Belém sagrar-se campeão. Já não levantamos o caneco desde os Idos de Pedro Roma."

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"Stepanar": cometer um penalty imbecil numa jogada pefeitamente inofensiva.

Exemplo: "A bola ia sair pela linha lateral, quando Carciano agarrou Michel Simplício e lhe administrou um subtil peixiggia. Grande penalidade stepanada pelo jogador dos azuis."

(reparem na utilização de dois termos del balón na mesma frase - segue a explicação do segundo.)

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"Peixiggia": termo referente à administração de uma carícia surreptícia a um insuspeito adversário.

Exemplo: ver acima.

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Os Italianos Chamam-lhe "Di Mama"

Mamadi (Di Mama, para os italianos) é um nome que fala por si.
O nome completo até é Mamadi Balde, mas, bem vistas as coisas, é um pouco irrelevante saber se Mamadi mama do balde, do barril ou do bidão. Sabemos apenas que Mamadi mama e isso basta-nos.
Como podemos sintetizar a carreira deste discípulo da verdadeira escola guineense do “kick-and-kick”, aluno predilecto doutro mamão inscrito nos anais da História contemporânea a letras Arial bold, tamanho 12, de seu nome Mamadu Bobó?
Simples. Primeiro, o Sporting de Bissau, a genuína fábrica dos sonhos. Logicamente, seguiu-se o Beneditense, reconhecido viveiro de grandes estrelas cintilantes, onde o seu aspecto de “bola 8” fez furor. O próximo passo nesta abençoada aventura foi o Fátima, o clube terreno que mais próximo está de Deus e onde o seu sorriso malandro serviu como mais uma luzinha de orientação aos peregrinos. Finalmente, Santa Maria da Feira, onde Mamadi vem mamando há já algum tempo.
As tetas preferidas de Mamadi são as tetas do “tackle destemido”, da “simplicidade de processos”, da “grande entrega ao jogo” e a costumeira “jogou a bola e foi o inevitável movimento que fez com que abalroasse o adversário”. Em todas elas Mamadi mama com igual alegria. Todavia, as tetas digladiam-se entre si para receberem os lábios delicados de Mamadi – e gritam-lhe, numa competição feroz: “Mamadi, mama aqui!”, “Mamadi, não mames ali!”, etc., só para não tornar este post num chorrilho de calinadas fáceis.

Para o final, três breves referências sobre o grande mamão da Feira:
1 – Está na Wikipedia, ao contrário do icónico Mamadu Bobó;
2 – A sua relação com a direcção feirense já conheceu alguns momentos vuckceviquianos. Comentando este tema, este famoso escriba também não ficou indiferente ao magnetismo muito particular do nome de Mamadi;
3 – Mamadi já foi alvo de insultos racistas por parte doutras claques – como se pode ver nesta peça. O jornalista classificou este lamentável incidente como… “uma mancha negra”. Poucos conseguiriam ironizar melhor.

segunda-feira, dezembro 01, 2008

A linha já tem um amante.

Salvé, Peuple de la Balle.

É com a solenidade dos grandes momentos que vos comunicamos a subida de mais um Deus ao Panteão (Olimpo não, que pode dar azar) do balón.
Desfraldem as bandeiras, pois nós gostamos da piada fácil e por vezes brejeira. Aí está ele, no esplendor da sua calva magnitude e alva alma que paira sobre a lateral direita do campo relvado de Zeus.

O lateral-bandeira de uma geração de cromos, careca como o Paco e baladeiro como o Rui, riu-se a bandeiras despregadas dos patéticos perseguidores e respectivas tentativas de colocar a sua bandeira a meia-haste.

Sob a linha da meta, a tenacidade do Fernando obrigou os adversários a acenar com a bandeira branca em sinal de ignóbil rendição perante a evidente superioridade do calvo atleta, prolífico na difícil arte carloscostiana de assinar golos de bandeira.

Que sejas bem vindo, Fernando. Serás a bandeira do nosso onze.
















quem souber a razão do guest starring do Sr. JNPC num episódio de Family Guy, que o diga.
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